Bolsonaro e Trump.
Quando o Presidente Jair Bolsonaro se mostrou um admirador
do Presidente dos EUA, Donald Trump, uma boa parte da mídia e de críticos
insinuaram que tal simpatia afetaria as relações norte-americanas e brasileiras
numa eventual vitória do Partido Democrata na sucessão do republicano. Joe
Biden venceu o polêmico pleito eleitoral e para surpresa geral, o Brasil
continuou com as portas abertas para bons negócios e muito boas relações com o
atual governante da Casa Branca.
Recebemos sinal verde para finalizar a adesão do Brasil ao Global Entry norte-americano, facilitando a entrada de brasileiros nos EUA; recebemos tropas norte-americanas para treinamento conjunto com o Exército Brasileiro na CORE ou Operações Combinadas e Exercícios de Rotação prevista no âmbito da Conferência Bilateral de Estado-Maior Brasil-EUA de 2020 e recebemos elogio diante do nosso compromisso ambiental na COP-26 do enviado especial para o Clima dos EUA, John Kerry. Ou seja, nada mudou entre a saída de Trump e a chegada de Biden. Os críticos emudeceram.
Brasil ou Bolsonaro na Rússia?
Agora, existe uma grave crise na Europa, com declarações políticas beirando a agressividade entre a Rússia e a Ucrânia, bem como envolvendo a OTAN. Novamente, uma
boa parte da mídia e de críticos ao atual governo do Brasil geram acusações
pelas redes sociais e colocam em xeque a visita de Jair Bolsonaro até a Rússia comandada por Vladimir Putin.
Para analisar essa questão devemos começar lembrando que o
convite oficial para a visita partiu do próprio Vladmir Putin e foi feito ainda em
2021. Outro ponto importante. Segundo o Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, uma aproximação entre Brasil e Rússia poderia ampliar em US$ 261 milhões o fluxo das exportações Made in Brazil para a Rússia. Evidentemente, negócios que devem ter aval do autocrata Putin que controla o país há mais de vinte anos. Fato a ser ressaltado também é a participação brasileira no Banco dos BRICS criado em governos anteriores aos de Bolsonaro e cujos acordos e entendimentos continuam valendo. Contudo, o mais importante nessa visita é o comércio e principalmente a garantia de que receberemos os fertilizantes da Rússia, tão vitais para a nossa agricultura, mesmo que já tenhamos contatos com países como o Canadá para receberemos uma maior quantidade de potássio, fósforo, nitrogênio entre outros nutrientes do solo.
Por certo, uma potência econômica como a Rússia não deve ser deixada de lado, mesmo que alguns discursos políticos possam ser divergentes. A diplomacia brasileira sempre se manteve aberta a cooperação internacional com múltiplos parceiros. Jair Bolsonaro foi eleito com uma pauta conservadora e rotulada de direita e uma visita ao líder russo num momento delicado diante da crise com a Ucrânia sempre vai levantar preocupações. Mas as relações Brasil e Ucrânia estão consolidadas e próximas tendo sido celebrado o aniversário de 30 anos de estabelecimento de relações diplomáticas no último dia 11 de fevereiro.
Mas e as pautas conservadoras de Bolsonaro possuem eco com alguma bandeira de Putin? Onde fica o ataque ao comunismo, conteúdo permanente dos admiradores do candidato Bolsonaro, perguntam alguns críticos?
Se olharmos com mais profundidade, Putin se apresenta como um conservador ( todo ditador é um conservador pois deseja conservar seu poder absoluto) que persegue pessoas e pautas de muitos partidos comunistas nos temas de drogas, direitos LGBT, religião etc. Não que isso aproxime Bolsonaro do estilo ditatorial de Putin, é bom frisar uma vez que Jair Bolsonaro tem defendido a liberdade como principal bandeira. Talvez o patriotismo? Também não. Putin é um falso patriota que aparenta lutar com unhas e dentes por sua amada Rússia mas usa seu discurso apenas para manter seu grupo no poder. Claro, que tem saudades da grande União Soviética e talvez da Rússia imperialista dos czares e sua força mundial, rodeada de países satélites que formavam a Cortina de Ferro mas não que isso tenha sido positivo para o povo russo. Nunca foi. O patriotismo desse tipo de líder só defende seus próprios interesses.
Putin foi treinado nas técnicas da antiga KGB, central de inteligência e espionagem que mesmo mudando de nome, permaneceu atuante com suas articulações, conspirações e investigações ao redor do mundo (isso vale um outro artigo, em breve). Talvez Bolsonaro devesse recusar o convite e se isolar por completo da Rússia defendendo seu discurso eleitoral também como plataforma exterior, mesmo num ano pós pandemia? Sabemos que visitará a Hungria e que o roteiro inicial da viagem agendava também a Polônia na sua rota. Mas a realidade de uma acelerada ameaça à paz mudou o contexto e a viagem traçada anteriormente. Assim como da China, esta sim, declaradamente comunista? Seria possível fazer isso e não receber ainda mais críticas? A economia brasileira perderia mais ou menos com tais atitudes?
Enfim, parece que a visita de Jair Bolsonaro até a Rússia (e quem sabe em breve aos EUA de Joe Biden, bem como até a Ucrânia em algum outro momento) revelam que a diplomacia brasileira pode estar dando um exemplo de abertura ao diálogo e ao entendimento.
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